César Borges conduziu o LUNCH-in como se fosse uma conversa entre amigos, já que estavam presentes pessoas que ele conhece há muitos anos. Pessoas tem virtudes e defeitos, e entre as virtudes estão a lealdade e a amizade, referindo-se a seus assessores Ismael e Iêda que trabalham juntos há mais de 16 anos.
Dividiu sua fala em dois momentos dizendo que falaria um pouco da sua vida e depois da sua experiência política. Nasceu em Salvador, no ano de 1948 e se criou em Jequié, cidade de origem de sua família. Explicou que seu parto foi a segunda "cesariana" que sua mãe fazia e que naquela época o risco de fazer uma cirurgia dessa nas condições existentes no interior era muito grande. Conta que sua mãe achava linda a farda do colégio militar e que por conta disso aos 10 anos prestou admissão e passou a estudar nele. César diz que para ele a farda de escola militar lembrava farda de "baleiro".
A disciplina do colégio militar lhe ensinou a enfrentar a vida. O sargento que era tutor da turma disse que ele era um menino muito feio. Isso o estimulou a buscar belas namoradas.
Fez o curso de engenharia civil na Escola Politécnica. Trabalhou como engenheiro e ensinou a matéria de estradas junto com Vasco Neto.
César diz que Valdomiro Borges, pai dele, sempre foi visionário, e pediu lhe ajuda para criar um bom hotel e alguns empreendimento em Jequié. Ele era Deputado Federal e se desligou do cargo para concorrer à prefeitura de Jequié. Perdeu as eleições. Conta que tomou as dores do pai e esse fato foi o que o levou a entrar na carreira política. Isto foi na época do acidente que vitimou Cleriston Andrade.
O primeiro cargo político ocupado por César foi o de Presidente da Associação Comercial e Industrial de Jequié. Lembra que quando era estagiário trabalhou na construção da ponte Rio-Niterói, onde se encantou por pilotar mono motores. Aprendeu a "voar" o que lhe facilitou viajar bastante pelo interior da Bahia. As muitas viagens representando a Associação Comercial lhe ensinou a olhar para a comunidade em torno dele. Conheceu a pobreza. Foi ser presidente da Junta Comercial quando contratou uma consultoria federal para informatizar a junta. O secretário de comercio Álvaro Cunha tinha sido contemporâneo de César no colégio militar e estava ajudando na candidatura de Waldeck Ornelas e Manoel Castro. Álvaro o convocou para sair candidato a Deputado Federal. César consultou o pai e família a aceitou o desafio se elegendo em 1986.
"Fui oposição a Waldir Pires que quando se elegeu nesta época afirmava que nada tinha sido feito na Bahia. Meu primeiro discurso na assembleia foi para desmentir isso".
César disse que nos 40 / 50 anos que antecederam o mandato de Waldir, a Bahia era um Estado agrícola, dependente do cacau com as decisões concentradas em Salvador. Tanto que em Jequié quando alguém viajava para a capital dizia que estava viajando para "a Bahia". Afirma que viu Lomanto abrir estrada até Juazeiro, Luiz Viana abrir estradas até Ibotirama e Antônio Carlos fazer a estrada do feijão até Xique-Xique. Lembra que a Bahia é um Estado do tamanho territorial da França e que nesse período foi feito muito.
César afirma que não se pode jogar pedras no passado. Todos nós passamos por aqui e somos temporários. Todo mundo constrói. Cada um deixa a sua marca. Erros sempre existem. É preciso consertar, mudar...
Mudança sempre tem que ser para melhor. Para pior ninguém quer mudar.
Waldir saiu do governo em 1988 e Nilo Coelho deu continuidade ao programa de construção de estradas.
César diz que foi secretário de Antônio Carlos na pasta de recursos hídricos, saneamento básico e habitação. Conheceu melhor a Bahia, nesta função. Afirma que o Estado teve impressionante poder de desenvolvimento. Neste período viajar de Alcobaça, por exemplo, a Salvador era uma aventura. César relata que por conta das estradas abertas, o extremo sul do Estado foi integrado e Porto Seguro foi "redescoberto" com a BR 101 transformando-se no 2º polo turístico do Estado.
O "além São Francisco" passou a ser o Oeste da Bahia que do ponto de vista agropecuário é a região mais desenvolvida do Estado. César destaca que emancipou Luiz Eduardo Magalhães que deixou de ser o distrito Mimoso do Oeste vinculada ao município de Barreiras. O mesmo desenvolvimento aconteceu no norte do Estado com a irrigação. Assim a Bahia passou a ser a 6ª economia do Brasil. Isso porém acontece na base de soluços, não há um crescimento regular.
Três fatos históricos marcam a melhoria da economia da Bahia:
Petróleo. A refinaria Landulpho Alves, até hoje a única do nordeste.
A conquista do Polo Petroquímico. César destaca que não são fatos isolados, nem obras de um só governante. É um processo que viabiliza a economia de longo prazo. Para se ter petroquímica, houve antes o petróleo e assim por diante.
A conquista da FORD. Aconteceu no seu governo, mas o atual já a ampliou. Destaca a entrada definitiva da Bahia na economia terciária e quaternária. Cita a chegada do polo calçadista e a implantação da Azálea em Itapetinga e da Monsanto.
Lembra que assim como a RLAN é a única refinaria do NE o polo FORD é a única indústria automobilística da região.
Como Secretário de Saneamento, deu início ao programa de saneamento da Baia de todos os Santos que sofreu varias ampliações e se tornou o Baia Azul. Programa concebido durante o governo de Roberto Santos, iniciado no governo de César Borges e foi executado nos três governos seguintes. Hoje Salvador é uma das capitais que tem melhor saneamento básico do país.
Relata que como Secretário conheceu toda a Bahia com detalhes. A água calcária de Irecê, que tem características químicas tais, que um sabão não faz espuma. Trouxe água de Mirorós para Irecê, do Paraguassu para Milagres resolvendo esses problemas.
César afirma que Antonio Carlo Magalhães era um homem público exemplar. Queria atingir seus objetivos e servir a população. Segundo ele, ACM dizia: "Melhor do que mil palavras é uma ação"!
Enxugou e saneou a EMBASA. Relata que hoje a EMBASA está pronta para abrir seu capital na Bolsa. O IPO só não acontece para capitalizar a empresa e melhorar o uso dos recursos públicos por que não há interesse político.
Aprendeu muito com a privatização da COELBA e com o programa Sertão Forte. Seu maior contato no grupo de ACM era Luiz Eduardo. César via nele o potencial de ser Governador e Presidente da República e se enxergava caminhando com ele. Eduardo era jovem, visionário, tinha princípios, cumpria os compromissos assumidos. Tinha palavra e ideologia. César lembra que logo depois que assumiu o Governo, Luiz Eduardo morreu. Esse fato gerou a oportunidade para ele se eleger o próximo Governador . Não que isso lhe deixasse feliz, mas como dizia Maquiavel, para ter sucesso precisa-se de duas coisas: "virtu e fortuna", que em Latim significa "talento e sorte". Talento aqui entendido como aplicação, estudo e dedicação. A força de cada um em se desenvolver.
Abrindo um parêntese na apresentação informa que neste momento está cuidando de seu talento fazendo um MBA em gestão na FGV. Já viu matemática financeira, estratégia empresarial, e agora está estudando gestão de pessoas. Aprendeu a lição de que motivação é a força, a energia que você e tem dentro de si e que te leva a ação.
Retomando a palestra, fala que essa motivação com o talento que já tinha foram os fatores que o levaram ao governo naquela época da morte de Luiz Eduardo Magalhães.
César diz que governou a Bahia por 4 anos e nesse período passou por dois momentos históricos. O primeiro foi a passagem do milênio no ano 2000. O segundo foi a conquista da FORD para a Bahia. Ao contar a história da FORD, lembra que sua equipe de marketing criou uma propaganda na Folha de São Paulo: "GM e FORD venham para a Bahia. Aqui se cumpre compromissos". Publicaram logo após a notícia de que o Rio Grande do Sul tinha deixado de honrar compromissos assumidos por governos anteriores. Relata que uma semana depois da publicação desta matéria, recebeu um telefonema do Presidente da FORD perguntando se o convite era para valer. Assinou contrato com a FORD em 99 e já em 2002 os primeiros veículos estavam sendo entregues. César afirma:"Conversei recentemente com a presidência da FORD que relata estar satisfeita com a BAHIA inclusive com a qualidade da mão de obra". Destaca que o atual governo lutou pela permanência da FORD na Bahia e pela ampliação de sua ação.
Falando de sua atuação no Senado, destaca que sempre pediu investimentos em infraestrutura e logística para a Bahia. O Governo federal tem 2 grandes débitos com o Estado: Educação. Até pouco tempo a Bahia tinha apenas a UFBA como única universidade federal. Hoje tem 4 universidades. A outra grande dívida é o déficit portuário.
No Senado, relatou o estatuto do desarmamento, da regulação do saneamento,. Aprovou a lei de desburocratização de inventários e divórcios permitindo suas resoluções em cartório. Relata os livros que escreveu com destaque para O Brasil que César Borges quer.
Em 2004 perdeu as eleições para prefeito e em 2010 para senador. Como candidato a Prefeito disse ter percorrido toda a cidade e que chegou a perder o sono durante a campanha pela complexidade dos problemas a resolver. Explica que Salvador precisa de um Prefeito absolutamente alinhado com o Governo do Estado e com a Presidência da República para recuperar o passivo que foi criado. Lembra que tudo que o governo do Estado faz na Capital, quem fica com o bônus da obra é o prefeito. Declara que é preciso muita confiança do Governador no Prefeito para que possam trabalhar juntos.
O mau gestor não faz apenas um mal no tempo em que governa. Deixa um passo ruim, um rastro ruim para seu sucessor.
César agora é Vice-presidente de governo do Banco do Brasil, a pedido da presidente Dilma. Afirma que o BB é uma grande instituição, não só pelo fato de ter o maior capital da América Latina - 1 trilhão de reais e 120 mil funcionários, mas principalmente pela qualidade e competência da sua equipe. Hoje executa com determinação a política pública do governo federal de redução de "spread" e taxas bancárias.
Afirma que a taxa SELIC deve chegar a 7 % ao final do ano e que a próxima política pública a ser implementada é a redução das tarifas de energia elétrica para desoneração da produção industrial.
César encerra apresentando estatísticas do Estado e do País. Para ele o principal legado do governo de Lula foi a redução da pobreza. Afirma que o Estado tem que ser um regulador da economia.
Respondendo a perguntas sobre a Bahia incluindo a vocação náutica e o futuro do litoral Norte, César mostrou pleno otimismo, afirmando que a Bahia reúne todas as condições para um novo ciclo de crescimento econômico. Devido às características de nossa sociedade ainda são os políticos eleitos que deverão conduzir essa passagem. Afirma que a parte que cabe a cada cidadão é a de votar naquele candidato que tem a competência necessária para liderar o processo de retomada econômica do Estado.