Valber é um grande contador de histórias. Iniciou a sua fala agradecendo as apresentações feitas por Marcos Vinicius e Luiz Guilherme e logo explicou que cuida da saúde por que acha que somos uma máquina que se aperfeiçoou intelectualmente e se esqueceu das "engrenagens e da carroceria". Citando a sabedoria dos africanos diz que "quando morre um homem sábio é como se uma biblioteca inteira se incendiasse".
Afirma que o baiano não tem o hábito de registrar e documentar as coisas. Como é uma pessoa que olha muito para a história, vê que Salvador é uma cidade de muito belas cenas e grande hospitalidade, porém está perdendo a sabedoria dos mais velhos.
Conta que fez engenharia, como um desafio que os jovens gostam de encarar de se tornar bom numa área em que não é. Teve a coragem de abandonar o curso de engenharia para fazer comunicação e isto, na década de 70, era tido como uma loucura.
Afirma que o jornalista tem que gostar de gente para ser bem sucedido. Ilustra esta afirmação exemplificando o fato de ter que sair da cobertura de um desabamento onde experiencia a dor e o sofrimento humano para após limpar a lama dos sapatos reunir com representantes do Banco Mundial para discutir um projeto de alto investimento. Na sequência afirma que o jornalista não sabe nada em profundidade e tem que ter humildade para reconhecer sua ignorância. Ilustra contando que em 1986, ligara para a redação com a intensão de relatar que estava 15 minutos atrasados e por telefone mesmo foi direcionado para cobrir uma cirurgia de ponte de safena, que estava sendo realizada naquela manhã em um colega de trabalho.
Sem "Google" e internet para pesquisa rápida, coisa que na época não existia, foi para o hospital sem saber o que era a tal da ponte de safena. Entrou na sala de cirurgia e tomou um choque ao ver o colega, que apesar de não ser amigo era conhecido, com o tórax aberto. Depois de se recompor e recuperar o sangue nas veias, colocou o microfone no médico e com ele combinou ir perguntando o que estava acontecendo ao longo da cirurgia. Assim foi: Doutor e agora o que está fazendo? Em resposta ouviu o médico dizer que construía uma espécie de viaduto. Está vendo isso aqui duro dentro da veia, o sangue não pode passar, estou fazendo um desvio para que a circulação volte, é a ponte de safena.
Valber diz que muito aprendeu e depois de passar a das 8 h até as 13 hs na sala de cirurgia, passou a dar mais valor aos médicos.
Retomando o tema da saúde afirma que se preocupa por que "a gente é o que a gente come. É um absurdo perder as capacidades intelectuais por que comeu muita gordura durante a vida". Para mim é uma delícia encontrar pessoas de 80, 90 anos com memória vívida que nos faz resgatar as situações e cidade que já fomos!
Conta que lê a Bíblia e que sua mãe dizia que o velho testamento tem muita briga e que só com Jesus Cristo ela via falar de amor entre os homens. Cita uma passagem que a esposa destacou para ele: "onde está o vosso tesouro aí estará o seu coração" para justificar que sua palestra estava sendo feita para falar do que move o seu coração.
Nós jornalistas somos como uma flecha que leva a informação ao seu alvo. O Alvo é o público a que se destina a informação. Cabe ao jornalista testemunhar a realidade e contar a história com o máximo de aderência à realidade possível. Para Valber, a história deve ser contada de forma que quem a ouça, a entenda. Reclama que a diarista que trabalha sua casa não entende 80% do que é dito no Jornal Nacional da rede Globo.
Na opinião de Valber, o jornalista hoje está muito pouco atento ao outro. Nem percebe que está chateando seu público. Confessa que aquilo que mais busca ao fazer um noticiário é não chatear ninguém. O noticiário não agrada quando o assunto não tem a ver com o tema de interesse de quem assiste.
O cara da cidade acha que ela é auto-suficiente e não está atento ao que ocorre no campo. A cidade come o que o interior planta. Faz-se uma TV para todo o Brasil e fala-se do tempo apenas para quem mora nas cidades. A moça do tempo diz que é uma má notícia chover no final de semana por que não vai dar praia. Não há interesse em dizer que é uma boa notícia para quem está no interior e aguarda a chuva para sua plantação.
Outra coisa muito séria é a questão do Nordeste, da seca. Uma saída é a organização das pessoas com tecnologia e associativismo.
Valber projeta um noticiário condensado Cabra de Corda, sobre uma cooperativa de Jussara, no sertão da região de Irecê, que começando com 13 associados hoje conta com mais de 1000 cooperativados e desenvolve tecnologia a partir da observação e sabedoria do povo simples. Sabedoria até para deixar as bandeiras partidárias na porta da cooperativa e não levar disputas de palanques eleitorais para o interior da cooperativa. Nas palavras de um dos cooperativados: "A força da organização é que dá o retorno".
Para Valber, tem que haver mais amor no marketing. O marketing feito apenas com interesse na promoção de coisas com vistas ao lucro é como o vôo da galinha, acaba logo. Repete: "É preciso colocar amor no marketing".
Vê que o jornalista pode ser uma fonte de esclarecimento para a sociedade desde que não se preste a ser um arauto do atraso. Cita o poeta Ferreira Goulart que decidiu ser poeta para dar voz a um mundo se histórias e afirma que é isto que busca com o seu jornalismo.
Afirmando que as pessoas não se dão conta do quanto estão se isolando Valber passa a contar sua pesquisa para escrever um livro sobre Irmã Dulce. Já entrevistou mais de 156 pessoas, das quais 2 presentes na platéia e relata que as pessoas mais humildes são as que o tem presenteado com verdadeiros diamantes em sua busca de informações. Constatou também que uma prerrogativa de quem tem poder é fazer o outro esperar e confessa que todo jornalista é um pouco arrogante e não gosta de esperar.
Muito humano e focado nas pessoas simples. Denuncia que as pessoas descartam as outras depois de muito usá-las. Conta que aprendeu com um tio, quando ainda era jovem e passava férias no sítio dele, a alimentar os cavalos velhos, que já não podiam trabalhar, de forma a dar-lhes uma velhice e morte digna em vez de simplesmente descartá-los em um abatedouro.
Falando da valorização das pessoas e de lhes perguntar sobre o que sabem, contou como desenvolveu o projeto Saberes para a Odebrecht. Relata que um de seus dirigentes, Marcos Lima, depois de realizar duas caminhadas na trilha de Santiago lhe ensinou que para chegar ao final do caminho e cumprir as metas, e preciso seguir os sinais. SIGA OS SINAIS e na vida, muitas vezes eles são sutis.
Valber relata como tem seguido os sinais em sua pesquisa e coleta de fatos para escrever sobre Irmã Dulce e relata diversas sincronicidades que tem ocorrido.
Ratifica que fazer um documentário é seguir os sinais e conta a dificuldade que tem quando lhe exigem um roteiro prévio bem estabelecido. Compara esta atividade com as famosas reuniões de condomínio nas quais o último ítem da pauta é sempre o mais importante: o que ocorrer. A vida é sempre o que ocorrer e a gente fica sempre querendo antecipar.
Com ênfase, Valber afirma que a gente precisa dar mais atenção aos outros e o que é mais grave, muitas vezes estamos menosprezando o outro. Presta-se pouca atenção ao outro, afirma. ouve-se muito pouco o outro.
Retornando ao livro que esta escrevendo, Valber ressalta que Irmã Dulce deixou um rastro de luz por onde passou. Fala que é uma honra para nós baianos, que ela tenha nascido aqui e que ela merece ser vista com um outro olhar.
Para Valber, Irmã Dulce era uma transgressora "do bem" que veio quebrar muitos paradigmas da igreja e da sociedade.
Não basta falar de caridade é preciso FAZER caridade.
Avança sua apresentação falando de como uma ação comercial pode fazer e disseminar o bem, contando a história do restaurante Grão de Arroz e sua opção de difundir saúde através da alimentação macrobiótica. Ressalta o papel que o restaurante teve durante os anos de ditadura sendo um ambiente que deu voz a muitos, quando não havia outras perspectivas.
Valber destaca que assim como na ação comercial do Grão de Arroz foi possível fazer o bem, não é necessário ser um especialista como Irmã Dulce, todos podem ser agentes de transformação: Ouça as pessoas. Acredite em seus sonhos.
Irmã Dulce lhe ensinou que é possível dialogar com todos os extratos sociais.
Finalizando Valber conta que quando trabalhava na Rede Manchete, foi cobrir o Trabalho de um "Lama" e ao se despedir pediu a intérprete que desejasse ao monge: "Tudo de bom para você!". O Lama acolheu os votos e respondeu com a impactante frase: "Tudo de bom para você! E para os outros através de você!"