Dra. Miriam agradeceu a cada pessoa pela presença para conversar de um tema difícil, tabu, envolto em preconceito.
Apresentou-se como psiquiatra, professora da UFBA e da FTC, funcionária pública, mas sobretudo uma pessoa que, muito antes desses títulos, já fazia trabalho voluntário.
Ao receber a "Fita Amarela", a todos distribuida pela CONSISTE, explicou que a cor fazia referência ao setembro amarelo, por que o dia 10 de setembro é o dia internacional de prevenção ao suicídio.
Diz que é precio entender para poder ajudar e difundir esse conhecimento.
O comportamento suicida ainda é percebido com muita restrição, como se fora falha moral, fraqueza, pecado mortal, entre outros rótulos. O preconceito abrange todos os aspectos da questão: o sucicida, sua família e amigos. Seu estudo começou há pouco mais de 100 anos e na ultima década o conhecimento sobre o tema aumentou muito.
Três etapas envolvem a suicidabilidade:
- Ideação - pensar em se matar
- Para Suicídio - tentativa sem sucesso
- Suicídio - o ato
Estatísticas mostram que são feitas de 10 a 20 tentativas para cada suicídio. Que as mulheres tentam 3 vezes mais que os homens, porém estes cometem o suicídio 3 vezes mais que as mulheres. Eles têm dificuldade para pedir ajuda e utilizam meios mais letais quando agem.
O suicídio no idoso é mais frequente que entre os jovens.
O suicidio é a segunda causa mais importante de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. 17% da população já pensou em se matar. 5 % Fizeram planos. 3% tentaram e 1% cometeu o ato.
Dra. Miriam denuncia que, enquanto contabilizamos grande redução de índices de mortalidade em doenças cardiovasculares, câncer, HIV e outras doenças infecciosas, os índices de mortalidade por suicídio estão aumentando.
Há um suicídio a cada 40 segundos no mundo. No Brasil, há 12.000 casos notificados por ano. A Sociedade Brasileira de Psiquiatria acredita que o número real chegue a 24.000 casos.
Boa parte dessas mortes podem ser evitadas, afirma Dra. Miriam.
Os fatores que contribuem para o suicídio são: aumento do stress no estilo de vida moderno; crise política e econômica – com desemprego; redução no acesso ao tratamento profissional de doenças mentais.
Quase 100% dos suicídios tem como base uma doença mental, sendo que cerca da metade tem relação com a associação "depressão + abuso de substâncias" e pelo menos 10% são de esquizofrênicos.
Estudos recentes mostram que a doença mental está na base de 98% dos suicídios. Com tratamento adequado mais de 90% desses doentes não se matariam, declara Dra. Gorender.
Existem muitos fatores de risco, porem o maior deles é a existência de tentativas anteriores. Quanto mais grave a tentativa maior o risco de reincidência. Outros importantes fatores de risco que devem ser conhecido são desesperança, isto não é tristeza nem desespero é a perda real da esperança. Impulsividade / agressividade; Falta de rede de apoio social e História de abuso na infância
Hoje o Brasil vive grande crise de desatenção ao doente mental. É um verdadeiro genocídio social, afirma Dra Miriam.
Os moradores de rua sem assitência é o maior exemplo desse genocídio! O Governo do Estado da Bahia quer fechar os 3 últimos serviços psiquiátricos que atendem hoje mais de 20.000 baianos carentes.
Para intervir a ajudar, precisamos conhecer os sinais de perigo:
- Diagnóstico de doença psiquiátrica;
- Pensamentos suicidas intensos e frequentes;
- Comunicações a familiares e amigos;
- Histórico anterior de tentativas;
- Histórico familiar de suicídio;
- Mudanças de vida inesperadas e de grande stress, especialmente em pessoas fragilizadas pela doença.
Muito prática e pragmática Dra Miriam exemplifica frases e ações que podem nos ajudar a identificar uma tendência suicida a tempo de providenciar ajuda médica: "Não aguento mais"; "Queria sumir"; "O mundo / minha família vai ficar melhor sem mim"; "Eu quero morrer"; "Isolamento social"; “Pôr em ordem seus negócios” e a melhora súbita e aparente em deprimido crônico. Muitas vezes é a tomada de decisão de tirar a propria vida que dá ao deprimido crônico o alívio que produz a melhora!
Para ajudar pessoas nessas condições de risco é preciso atitude. Não é adequado dizer frazes como: "Tenha força /coragem / fé..."; "Deixe de frescura / preguiça..."; "A vida é tão bonita / vale a pena..."
É muito importante ter claro na mente que são pessoas portadoras de doença e que precisam de diagnóstico e tratamento. Frase como essas não ajudam.
Quem está deprimido está doente. Não tem forças nem para se pentear.
Para se ter uma noção muito longe dessa realidade, basta lembrar um momento em que você esteve doente, por exemplo acamado com uma gripe muito forte e sem forças para levantar....
A dor da depressão é real e permanece doendo por meses...
Como ajudar?
Consciente de que a pessoa pode estar doente e precisar de uma intervenção real, são exemplos de frases e atitudes que ajudam:
- "Estou do seu lado / estou lhe escutando"; "Deixe eu entender o que você está dizendo!";
- Perguntar claramente: você pensa ou quer se matar? Esta pergunta provoca imenso alívio ao suicida que passa a ter alguém com quem conversar...
- Vou lhe ajudar a procurar tratamento
- Não vou lhe deixar só (e realmente não deixar o outro só momento algum, nem mesmo para ir ao sanitário)
- Tirar acesso aos meios de suicídio.
Quando alguém diz que está pensando em se matar, a melhor ajuda que você pode oferecer é levá-la a um psiquiatra. A Medicação é eficaz!
O tratamento completo porém vai muito além do remedio. Requer uma equipe multidisciplinar.
Cuidar do sono, da alimentação e dos hábitos de vida são as coisas mais importantes para a saúde do ser humano.
Se alguem diz que já comprou "chumbinho" e vai se matar, NÃO A DEIXE SÓ. Nem por um minuto. Leve-a imediatamente a um psiquiatra.
Uma vez suicida, sempre suicida? Não necessariamente.
O tratamento devolve a alegria de viver. Mas algumas pessoas podem precisar de vigilância mais constante. Ex: deprimidos recorrentes, borderlines.
A maioria das doenças mentais é crônica e requer TRATAMENTO CONTÍNUO! Assim como a hipertensão e a diabetes.
O acesso ao psiquiatra e aos tratamentos são fatores de redução de suicídios.
Do ponto de vista de políticas públicas o papel da Imprensa pode ser fundamental, se bem orientado. Noticiar relatos de suicídios sensacionalistas tendem a aumentar as taxas – efeito Werther - enquanto matérias com informações sérias que eduquem, ajudam a prevenir ocorrências.
O Brasil não tem políticas públicas para prevenção ao suicídio.
Quando alguém se mata, deixa marcadas de 6 a 10 pessoas para o resto de suas vidas. É necessário cuidar desses sobreviventes.
O setembo amarelo não é dos psiquiatras, é de todo mundo.
Dra Miriam encerrou sua fala abindo a seção de diálogo com os presentes, respondendo a perguntas.